(Ou para além do meu tempo!)
Por Roque Peixoto
Tenho criticado posturas de velhos militantes do Movimento Negro. E tenho feito isso com muito respeito e preservando as pessoas. Afinal, as divergências que tenho são quanto à forma política de se fazer movimento por parte destas pessoas. Tenho feito isso, por que estou “me criando”. A humildade que aprendi dentro de casa através de uma Matriarca de tradições africanas me mantém um ser em construção constante. Pois então, me criando a cada dia.
Tenho feito críticas às direções de organizações que deixam suas entidades sucumbirem e ficar à margem das lutas em andamento. Pois direção que apenas reclama e não propõe, não está apta a ser direção.
Tenho saudades do tempo em que esperava os dias das reuniões do MNU, lá no Curuzú, em frente a minha casa (que ainda mantenho, pois nunca me afasto da minha origem. Seria péssimo para a minha criação), com as chaves do prédio para entregar a Nei Pires, a quem até hoje chamo carinhosamente de tio. Ficava esperando quando aquela Negrada chegava e eu ia até lá, levava a chave, conseguia água gelada, e participava das reuniões. Isso eu tinha ainda 11 anos. Será que é por que eu comecei a me criar cedo de mais?
Daqueles anos, minhas referências: Edmilton Sacramento, Eliana Rainha, Lindinalva de Paula, Ivonei Pires, Hamilton Borges, Suely, Professor Alberto, entre outras pessoas. Em especial, O Professor Alberto, hoje fotógrafo renomado na Bahia e no Brasil. Este era meu professor de Capoeira Angola e foi quem me convidou para a primeira reunião. Este ajudou a me criar e continua me ajudando. Pois cada mensagem que recebo deste, me enche de conhecimento e alegria.
O tempo foi passando e eu, como pessoa em criação, acompanhando ele. Coisas aconteceram. Disputas, rupturas, quebra de confiança, etc. Até que me decidi desfiliar do MNU. Mas em nenhum momento coloquei esta importante entidade em cheque. Pois a organização, assim como as pessoas, deve ser preservada. Mas critiquei duramente uma direção que destruiu uma organização tão séria. Será que fiz isso por que faz parte da “criação” romper com os pais e irmos morar só? Ou casar? Trabalhar? Afinal chega o dia que os pais cobram de nós para irmos viver nossas próprias vidas.
Há algum tempo estou militando na Coordenação Nacional de Entidades Negras (CONEN). Mas ainda tenho referências importantes no MNU, como o Edmilton, o Marcelo Dias, Marta Almeida, Consuelo, entre outras pessoas. Mas com certeza não tenho em figuras como o Reginaldo Bispo, referencia alguma. E talvez por isso, o mesmo não consiga romper com seus limites de estabelecer e reconhecer que as gerações se criam. E eu ainda não me sinto criado. Talvez por isso, continuo em atividade para além da internet. Continuo construindo para além do partido que milito, o Partido d@s Trabalhador@s. E como ainda estou me criando, talvez não queira me enquadrar nessa tal moral que o mesmo diz que eu preciso ter para falar ou escrever sobre algo ou alguém. E justamente por pensar diferente daqueles que pararam no tempo, consigo fazer leituras da conjuntura que me levam a propor questionamentos a uma SEPROMI inoperante. E a ex-gestora, hoje ministra, precisa voltar na Bahia para fazer-mos um bom balanço do que foi a gestão da mesma.
Aprendi que reconhecendo os erros, conseguimos avançar e acertar mais. E espero que Luíza faça isso na SEPPIR. Torço, de verdade, para consigamos avançar aquilo que precisamos avançar, pois ainda estamos muitos lentos.
Por fim, gostaria de aproveitar para agradecer a algumas que tem contribuído nos últimos cinco anos para o aprimoramento da minha criação e estão me ensinando sobre uma MORAL MAIS AFRICANA. Obrigado Kika de Bessén, Márcia Faro, Gevanilda, Cleide Hilda, Makota Celinha, Jussara da Aspiral do Reggae, Flávio Jorge, Rafael Pinto (que chamo carinhosamente de Pai), Matvs das Chagas, Matilde Ribeiro, e ao meu grande mestre aqui na Bahia, Gilberto Leal. Quero agradecer pelas palavras e textos da Maria Luíza Júnior que contribuem muito para o meu criar. Agradecer a Mãe Val do Afoxé Ogum de Ronda. E agradecer às pessoas que estão fazendo Movimento Negro para além da internet. Essas pessoas sim merecem minha moral e meu respeito. Até por que, respeito é pra quem tem!!!
Sigo me criando com essas referências. E propondo um Ano de 2011 diferente, de fato, para o povo negro.
Sejamos mais Movimento Negro, em memória dos Malês e com as bênçãos de Oxum e Yemanjá!!!
Saudações Quilombolas e Socialistas!!!