quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Turismo: uma escuna como pousada no Recôncavo baiano

Bernardo de Menezes

Não é de hoje que a frase “Navegar é preciso” é usada, independentemente da interpretação que se dê aos versos de Fernando Pessoa. No turismo, por que não tomá-la emprestada do poeta para exaltar o prazer de visitar lugares tendo uma embarcação como meio de transporte e hospedagem?

Quando a subutilização do imenso potencial da Baía de Todos-os-Santos continua sendo um dos maiores desafios do turismo baiano, uma “escuna-hotel” faz roteiros mais longos e diversificados, além daquele trivial, feito num só dia, com retorno antes do pôr do sol.

Uma parada num estaleiro artesanal de Maragojipe, para bater um papo com mestres e carpinteiros que não deixam morrer a tradição do saveiro, é apenas um dos programas de quem se hospeda no Schooner Resort, que há um ano e meio singra as águas da Baía de Todos-os-Santos em roteiros de dois e três dias de duração. Seu idealizador, Antônio Garcia, 67, nasceu bem distante do mar (Minas Gerais), mas é um apaixonado pelo litoral.

“Sempre velejei” – observou ele, conhecedor de recantos como Mutá (na contracosta da Ilha de Itaparica), Barra do Paraguaçu, Salinas da Margarida e outros lugares fora da programação convencional.
Recôncavo - “O roteiro do Rio Paraguaçu é um dos que mais gratificam nossos passageiros”, observa Garcia ao referir-se à cultura autêntica do Recôncavo. Juntamente com Salvador, o Recôncavo é o berço da civilização baiana, de forte influência africana nos hábitos, inclusive na culinária.

Garcia lembra que o Paraguaçu foi escoadouro natural de boa parte da produção dos cerca de 150 engenhos de açúcar existentes na região durante o período colonial e abriga a maioria dos saveiros remanescentes.

Na programação, as vilas da baía do Iguape, a Ilha do Medo, a Ilha de Monte Cristo, o antigo Forte da Salamina, a Ilha do Francês e a foz do Rio Guaí. É nesta foz, próximo ao píer de concreto, que a escuna “joga ferros” para um pernoite e jantar a bordo. No cardápio, concebido pelo chef Fábio de Oliveira, especialidades tradicionais e recentes. “Precisamos reforçar no baiano a cultura de dormir a bordo, aproveitando melhor esta maravilha que é a Baía de Todos-os-Santos”, disse Edinho Engel ao lembrar a qualidade da água e as dimensões da BTS, simplesmente a maior do Brasil.

“O futuro de Salvador é o turismo náutico e as autoridades precisam estar mais atentas a isso” – acrescentou destacando como impagável o prazer de ver um céu estrelado a bordo ou amanhecer o dia na foz deumrio (e, quem sabe, até pescar um pouquinho). Ao lembrar que a conscientização sobre a importância da náutica está crescendo, disse que o mercado de embarcações se expande e a iniciativa de operar uma “escuna-resort” na baía é mais que louvável neste contexto.

Como bom entendedor de gastronomia (é chef e dono do Restaurante Amado), ele destacou o cardápio a bordo com um dos pontos altos do programa, incluído aí como boa pedida a feijoada de mariscos, do chef Fábio. “Mas, a qualquer hora, você encontra um petisco, um drinque à sua disposição, servido por uma equipe que é pra lá de simpática” – arrematou.

Tarifas - O roteiro de dois dias, com um pernoite, tem 55 milhas náuticas e custa R$ 7.200 (para quatro camarotes com ocupação dupla). O de três dias (82 milhas), com dois pernoites, custa R$ 11.200 (também para quatro camarotes com ocupação dupla). Um terceiro passageiro, com até 6 anos, tem hospedagem free. É cobrada ao terceiro passageiro acima de 6 anos 35% da tarifa referente ao camarote. As saídas são garantidas com um mínimo de dois camarotes ocupados. A escuna tem convés de 24m e, na tripulação, comandante auxiliar, camareira e chef de cozinha. Todas as refeições são servidas a bordo, com petiscos disponíveis durante o trajeto. As bebidas incluídas são água, refrigerante, “roscas” e cerveja além de vinhos e espumantes servidos no jantar. Os quatro camarotes têm ar-condicionado individual e banho privativo.