sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Carta a uma senhora que descansa em Inema.



Jorge Portugal
De Salvador (BA)


Presidenta querida, aqui lhe escreve um admirador de primeiríssima fila (lembra-se da expressão na Pousada do Carmo por ocasião do Afro 21? A senhora me disse que adorou e até gostaria de usá-la) e que tem a remota esperança de que estas mal traçadas cheguem ao seu conhecimento. Mas o faço como os náufragos que jogavam garrafas ao mar.


Longe de mim perturbar seu sossego, afinal se existe paraíso de verdade, o Criador deve ter-se inspirado em Inema para fazer a praia de lá. Contudo, o assunto que me traz aqui é um desses impulsos insuportáveis que ficam perturbando nossa indignação até que a gente desabafe.


Li, hoje num desses jornalões sudestinos, que a irreprovável FGV, em pesquisa recente, chegou à conclusão de que um professor no Brasil ganha sempre 40% a menos que qualquer outro profissional com o mesmo nível de graduação. Ou seja, o profissional que é ponto de partida para todos os demais profissionais tem o seu salário quase sempre reduzido à metade do que ganham os outros. Escárnio?

Ironia? Requinte de crueldade? Será que não está aí a chave de todos os nossos gargalos no campo do desenvolvimento social já que educação de qualidade é a única arquiteta e provedora do futuro? Não sou educateca (obrigado, Gaspari), não escrevo e nem falo pedagogês complicado, sou apenas um educador a cujo trabalho a Bahia (e parte do Brasil) assiste todos os dias e, ao que eu saiba, aprova.



Sei da sua paixão pela educação - aliás, a única presidente da nação que utilizou cadeia nacional de rádio e TV para saudar o início do ano letivo.Estou eufórico com o Pronatec, com a ampliação dos campi federais de ensino superior, adoro-a revelando seus livros prediletos e acompanhei - discreto mas extasiado - a senhora cantando todo o repertório de Gilberto Gil, conhecendo as letras de cor, naquela mesma Pousada do Carmo no Afro 21. "Essa é do ramo", pensei comigo!



Por isso, retorno ao assunto: que recém-formado(a) terá estímulo para abraçar uma profissão que, de cara, já o deixará economicamente inferiorizado ante as demais profissões? Num mundo cada vez mais regido pelo dinheiro, que estudante genial (de Química, Matemática, Física, Inglês), mas sem o ideal de nossa geração, sairá aos pulos da universidade para reger classe no ensino médio?



Vem aí um novo PNE e eu lhe peço encarecidamente: ponha a mão nisso. Chegue junto com autoridade e paixão e não deixe que a área econômica trate com descaso os 10% do PIB para educação. China e Índia não estão brincando. Não aceite brincadeiras também. Lembre-se de mestre Anísio Teixeira: "O ensino público de qualidade é a única máquina de fazer democracia". Com professores ganhando dignamente, essa máquina pode até voar.



Abraço baiano cordial
Jorge Portugal