sábado, 12 de fevereiro de 2011

A arquitetura do poder

QUINTA-FEIRA, 10 DE FEVEREIRO DE 2011

A arquitetura do poder

Sócrates Santana

Uma bancada praticamente indestrutível é fabricada pouco a pouco no centro do poder baiano. Após eleger 14 parlamentares, o partido do governador teve uma das peças derrubada por uma liminar no Supremo Tribunal Federal (STF). De 14 soldados fiéis de “corpo e legenda”, a tropa de elite do governo na Assembléia Legislativa da Bahia caiu para treze. Os jogadores, contudo, continuam no tablado. E o término deste labirinto infindável de articulações pode consolidar uma bancada puro sangue com 15 deputados petistas dentro de um universo de 63 parlamentares.

Com a prerrogativa de mudar a correlação de forças através da convocação de parlamentares para o staff da administração estadual, o governador Jaques Wagner arruma o mapa do poder com a mesma intensidade que o judiciário altera a vontade das urnas. A superficial morosidade para compor a próxima equipe de governo, revela uma minuciosa operação que confunde os próprios escudeiros.

De primeira, a suposta intenção de alçar um parlamentar do PT para o secretariado. Correu nos bastidores a intenção do governador fortalecer politicamente o partido na região de Irecê através do ingresso do mandato de Joacy Dourado, primeiro suplente da coligação composta por PT, PDT, PP e PRB.

Mas, de primeiro suplente, Joacy Dourado virou segundo, após uma piscadela do STF para o até então inelegível Wank Medrado (PSL), que teve seus votos computados, retirando uma vaga da coligação petista e dando-a para a coligação PSB e PSL.

Quem ainda comemora é o deputado estadual Capitão Tadeu (PSB), reconduzido liminarmente para a Assembléia Legislativa da Bahia. O pseudo-socialista é um desafeto impublicável do governo e do próprio partido. Tadeu possui uma camuflada disputa com a senadora eleita, Lídice da Mata.

O governo retarda o anúncio do secretariado e decide fatiar as negociações. Golpeia como um lutador de boxe. Apresenta uma mão e atinge o adversário com a outra. Faz do primeiro suplente, Carlos Brasileiro (PT), secretário de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza. Até então, o menos cotado entre figuras que já possuíam mandato confirmado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TER), como Yulo Oiticica, Neuza Cadore, Marcelino Galo e Zé Raimundo.

É um gesto atordoante, que confunde o próprio PT. Aparentemente, é como trocar seis por meia dúzia, já que Carlos Brasileiro não possuía mandato. Mas, como diz o ditado, “as aparências enganam”. O petista Joacy retorna para o primeiro lugar na fila.

A negociação com o PDT ganha contornos de entrave para o público em geral. É de aporrinhar o petista Zé Neto e o neo-brizolista Marcelo Nilo trocarem farpas pela presidência da Assembléia. Assim como, a incursão do ministro Carlos Luppi até a Bahia, inflamado por correligionários, a exemplo do presidente do PDT regional, Alexandre Brust.

Nilo é reeleito presidente do legislativo e Zé Neto alçado a líder do governo. O também neo-brizolista, deputado estadual Paulo Câmara (PDT), é escolhido a dedo para assumir a secretaria de Ciência e Tecnologia (Secti). A força das urnas retoma a 14º vaga retirada do PT. Joacy é deputado estadual.

Dos escombros, o terceiro suplente, também do PT, Professor Valdeci, agora é o primeiro da fila. De volta para a cena, o humor do deputado estadual Capitão Tadeu (PSB) parece mudar conforme os ventos sopram a favor, não apenas do governo, mas, do próprio PT. É anunciado aos quatro cantos que não há sustentação na liminar do candidato Wank Medrado, que vê a sua agremiação, o PSL, declarar juros de amor para consolidar o partido na base aliada do governo.

No meio deste emaranhado político e jurídico, que atrapalha até o mais atento expectador, ainda resta uma outra alternativa para a formação de uma trincheira seguramente governista na Assembléia Legislativa da Bahia. O iminente risco que corre o deputado estadual Elmar Nascimento de perder o mandato. A anulação dos votos do colega de coligação, Joélcio Martins (PMDB), que não se reelegeu. O peemedebista teve o seu registro de candidatura negado pelo TSE, após recurso da Procuradoria Regional Eleitoral (PRE) contra a aprovação no TRE baiano. Quem ganha a vaga é a coligação PRB-PP-PDT-PT.

De 14 parlamentares eleitos pelas urnas, o PT pode reinaugurar a 17º legislatura baiana dando novos retoques nas cadeiras da Assembléia Legislativa da Bahia. Ao todo, quase ¼ do poder legislativo constituído no estado será ocupado pela marca de um partido que comemora 31 anos dando mostras de que não chegou até aqui pela mera força do acaso.

Apesar dos contratempos internos, no partido e na própria bancada petista, a mensagem do Palácio de Ondina começa a reverberar ecos de uma perene e sólida hegemonia política na esfera pública baiana. Trata-se de uma engenharia que vem sendo manuseada com a mesma destreza de sempre, por quem de longe cansou de engolir calado as agouras de um grupo político considerado indelével.

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