Por Roque Peixoto
A vida é mesmo algo estranho. Estranho mesmo. Sempre que estamos distraídos com alguma coisa, ela nos prega uma peça. Seja algo bom ou ruim. Sempre vai rolar um “lance” que lhe deixa surpreso.
A vida é mesmo algo estranho. Estranho mesmo. Sempre que estamos distraídos com alguma coisa, ela nos prega uma peça. Seja algo bom ou ruim. Sempre vai rolar um “lance” que lhe deixa surpreso.
Neste sábado, depois da reunião da Coordenação Nacional de Entidades Negras, pensei que iria para a casa onde estão me hospedando por solidariedade, em Salvador, e pronto. Eis que certo companheiro da CONEN nos desvia para o Bar do Cravinho, no Terreiro de Jesus. Uma parada para apenas um cravinho e pronto. Continuamos o nosso caminho numa bela conversa com outros dois companheiros, também da CONEN.
No caminho, passando pela Fonte do Gravatá, começaram outras investidas da vida. Estávamos falando do valor da amizade e a importância de preservá-la. Isso só poderia dar no seguinte: parada na entrada do Tororó pra beber um gengibre, com limão e mel. Mas como um dos nossos estava a fim de fazer a cara. Ou melhor: a barba. Paramos e o mesmo pediu uma cerveja. Parecia que estávamos preparando a alma para um ritual.
Depois de algumas cerveja e barba feita, uma parada rápida na casa que me acolhe para um banho, e mais prosas. Mas até aí, tudo bem. Seria apenas a preparação para prestigiar a Associação Cultural Aspiral do Reggae, filiada à CONEN, no seu projeto “Esquentando para o Carnaval”. Mas na saída, encontro um colega de escola que não vejo desde 1995. Portanto, 11 anos sem contato algum. E pra minha surpresa, o camarada toca todos os sábados aqui do lado de casa, com o Grupo Reduto do Samba. Não sabia que a vida me preparava uma noite de surpresas. Ótimas surpresas!!!
No caminho para a Tereza Batista, encontro outro grande companheiro de bons tempos da Posse Ori, quando nos reuníamos no Passeio Público para fazer Movimento Hip Hop. Que saudades de quando a vida não era apenas cantar rap, mas discutir os problemas do dia-a-dia e construir perspectivas para a juventude periférica. E na entrada da praça do evento, encontro um DJ das antigas e que continua no corre do Hip Hop com informação, e mais dois irmãos da Cariri, Santa Mônica, Curuzú. E o papo de quase uma hora sobre o Hip Hop foi muito bom. Senti firmeza nos caras e percebi que ainda há perspectiva para fortalecer o movimento.
E a noite continua. Logo depois de beber um energético, sou convidado ao palco para apresentar o show da noite, pela irmã Jussara Santana. Parecia pegadinha. Daí, eu achando que era só para anunciar Kamaphew Tawá e Aspiral do Reggae (o que já é uma gigantesca tarefa), a irmã pede para que eu me apresente. Mais uma surpresa. Daí, joguei “Meu Nome é Roque”, composição autoral em forma de verso (ver http://migre.me/3SE6o). E no meio da prosa-rima, no palco, a maior surpresa da noite. Vejo meu tio Josael Guimarães, que não o vejo, há muito tempo, e a sua galera da banda Unidade Punho Forte (Reggae do bom!!! http://migre.me/3SEaB) .
Para quem não sabe a minha história, fui um garoto rejeitado pela família da minha mãe biológica. Fui criado pelo meu pai, minha Avó Mariá e pela minha madrinha, que chamo de mãe. E tio Josael era o único que tratava a mim, e meus irmãos, bem. Enquanto ouvia de tias e até, da minha própria avó por parte de mãe que o nosso futuro seria na cadeia ou na “vagabundagem” (como ela dizia), Vó Mariá (mãe de meu pai) me fez a pessoa que sou. Mas como praga pega, um de meus irmãos entrou para a criminalidade e está cumprindo pena e um certo presídio da Região Metropolitana. Mas isso é outra história.
Para mim, o importante foi ver o olhar de meu tio cheio de orgulho de mim, e me apresentando para os amigos dele com um olhar brilhante de alegria.
Mas como a vida quer sempre mais, sou abordado por um homem, aparentando uns 45 anos, com dreadlocks enormes. Era o grande Mestre de Capoeira, Pé de Chumbo. Conhecemos-nos quando eu era bem garoto (uns 13 anos). Depois o cara sumiu. E reencontro o mesmo na Suécia, com uma escola de capoeira e vários seguidores, em 2004. Retornei ao Brasil e nos vimos novamente, e bem rápido, no aeroporto de Guarulhos, em 2006. E de repente ganho aquele abraço de um irmão (quase da idade de meu pai, que têm 48 anos), e tudo vai ficando maravilhoso.
Com tudo isso, retorno para o Tororó feliz da vida. Fortalecendo amizades e reencontrando pessoas importantes para mim. E no caminho ainda encontro Tiagão dizendo que resolveu todos os seus problemas. E Milson, companheiro da época da Fanfarra Duque de Caxias (que não vejo desde o Ano Novo de 2007/2008), me implorando pra que dê aulas de violão para ele. Tudo na mais perfeita sintonia.
Com tudo isso, tenho a certeza de que a vida é generosa conosco. Estou desempregado. Correndo na frente pra não ficar pra trás. Triste e preocupado com as contas a pagar. Mas ainda assim, a vida me dá a oportunidade de sorrir e de me emocionar. Obrigado Vida!!!
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